Êxodo 20:13 Não matarás.
O 6º Mandamento e a Pena
de Morte
A pena capital, ou pena de morte, é um
assunto atual. A sua validade tem sido discutida em todos os setores da
sociedade.
À medida em que aumenta a incidência dos crimes violentos observamos muitos
movimentando-se para que a pena
capital seja instaurada em nosso sistema judiciário.
1. A primeira coisa que nos chama a atenção, é
que na Bíblia não existe a provisão para cadeias. Isso
mesmo! Elas nem existiam como
instrumento de punição, nem como meio de reabilitação. Isso
realmente nos intriga, pois estamos tão acostumados com essa instituição que
não podemos imaginar uma sociedade sem cadeias. Quando um crime é cometido, a punição que pensamos de imediato é a
cadeia. "Merece cadeia!; devia estar na cadeia"! Dizemos com
tanta freqüência. Mas na sociedade de Israel, no Antigo Testamento, a cadeia
era apenas um local onde o criminoso era colocado até que se efetivasse o
julgamento devido. Em Números
15.34 lemos: "...e o puseram em guarda; porquanto não estava
declarado o que se lhe devia fazer...". Logicamente encontramos na
Bíblia o registro da existência de cadeias. Jeremias foi encarcerado e
Paulo, igualmente, diversas vezes, dentro do sistema romano de punições. Mas
estes encarceramentos eram estranhos às determinações de Deus.
2. Desta forma, por mais familiarizados que
estejamos com esse conceito, não encontramos, na Palavra de Deus, o
encarceramento como remédio, ou a perspectiva de reabilitação
através de longas penas na prisão. Muito menos, encontramos a idéia de
"proteção da sociedade" através da segregação do indivíduo que nela
não se integra, ou que contra ela age. Ou seja, não encontramos, nas
prescrições dadas ao povo de Deus, cadeias para punir, remediar, reabilitar
ou proteger.
3. O princípio que encontramos na Bíblia é o
da restituição. Em Levítico
24. 21 "...quem pois matar um animal restituí-lo-á, mas quem matar um
homem assim lhe fará". A restituição ou retribuição, era sempre
proporcional ao crime cometido. Como a restituição da vida era impossível, ao
criminoso, no seu caso a punição era a perda da própria vida.
4. Isso significa que aquela sociedade não
tinha meios para lidar com o crime? Ou aplicava a pena de morte em todos os
casos de quebra da lei? Não. Ela possuía determinações bem precisas e eficazes
contra a banalização e proliferação da criminalidade. Ela responde à quebra da
lei com medidas rápidas e que representavam prejuízo econômico para o infrator.
Para os casos de furto, a Lei Civil Bíblica prescrevia a restituição múltipla. Êxodo 22.4 "...se o furto for achado
vivo na sua mão, seja boi, seja jumento, ou ovelha, pagará o dobro".
5. Nos casos de furto de propriedade que
representa o “ganha-pão” ou meio de subsistência do prejudicado, a Bíblia
prescrevia a restituição de quatro ou cinco vezes o que foi subtraído. Êxodo 22.1 "...se alguém furtar
boi ou ovelha e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela
ovelha quatro ovelhas".
6. As
determinações das Escrituras procuravam proteger a vítima e colocar temor no
criminoso, tirando qualquer ideia de proteção que viesse tornar a vítima em
acusado também.
7. Aqueles que roubavam alimentos para
satisfazer a fome, deviam ser tratados com clemência, mas mesmo assim,
persistia a obrigação de restituir sete
vezes o alimento que furtou do legítimo dono, uma vez que a própria
constituição da sociedade já possuía a provisão para atendimento aos carentes,
tornando desnecessário o furto, como vemos em Deuteronômio 24.19 a
21. Quando, no teu campo, segares a messe e, nele, esqueceres um
feixe de espigas, não voltarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão e
para a viúva será; para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em toda obra das
tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás a colher o fruto dos
ramos; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será. Quando vindimares
a tua vinha, não tornarás a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão e para
a viúva será o restante.
Desta forma lemos em Pv. 6.30, 31:
"...não se injuria o ladrão quando furta para saciar sua alma, tendo
fome; mas encontrado, pagará sete vezes tanto: dará toda a fazenda da sua
casa..".
Os evangélicos estão perplexos e divididos. Sabem que a violência tem
raízes no pecado. Reconhecem a necessidade de que algo deve ser feito. Observam
a lentidão e falta de resposta adequada da justiça e o seu afastamento dos
princípios bíblicos.
Muitos tentam encontrar no 6º Mandamento uma proibição à aplicação da
pena de morte, dizendo que o "Não matarás", proibiria qualquer
execução.
O argumento é curioso, porque via de regra é aplicado justamente por
aqueles que negam a validade da Lei Moral de Deus para os nossos dias,
mas utilizam esta mesma lei quando lhes é conveniente. Nosso entendimento é de
que precisamente o sexto mandamento reforça a aplicação da pena de morte, ou seja, ele não é, em momento
algum, uma proibição à aplicação da pena capital.
Este mandamento enfatiza a santidade da vida. O que temos aqui, é
Deus dando uma determinação bastante objetiva, proibindo o assassinato.
A palavra, no original, ocorre 49 vezes no Antigo Testamento, sempre para
descrever o assassinato premeditado. O mandamento não está ensinando que toda a
morte é errada. O "não matarás", aqui, significa, muito
corretamente, não cometerás assassinato, por vingança.
Ou seja: nenhum indivíduo tem o direito de tirar a vida de outro. A
proibição não se aplica, portanto, aos governos constituídos que, exercitando o mandato e a
autoridade concedida por Deus, passassem a aplicar a justiça e a reforçar o sexto mandamento, com a
aplicação da pena de morte.
Isso é óbvio porque a própria Lei Civil de Israel, prescrevia a pena de
morte em várias instâncias e ocasiões exatamente pela quebra do
sexto mandamento " por exemplo, Ex 21.12 Quem ferir a
outro, de modo que este morra, também será morto. Com efeito, nenhum
profeta ou pronunciamento registrado na Palavra de Deus levanta a possibilidade
de que estas leis civis de Israel, também dadas por Deus, estivessem contrárias
ao sexto mandamento.
A santidade da vida é uma determinação
divina. Por inferência, todas as ações que prejudiquem a integridade física do
próximo, são passos preliminares no atentado à vida e constituem quebra do 6º
Mandamento.
A pena de morte tira "a chance" do
condenado de aceitar o evangelho?
Resposta:
Realmente, esse é um argumento que não deveria ser formulado por um crente nas
doutrinas da reforma, relacionadas com a soberania de Deus na salvação, mas,
infelizmente, ele é proferido por muitos. Dizer que a pena de morte não pode
ser advogada pelo crente, porque o condenado assim perde a "chance"
de ser atingido pelo evangelho e salvo.
Mas, vamos presumir, só para demonstrar a posição ilógica desta
colocação, que as pessoas são alcançadas pelo evangelho "por
chance".
Dois contra-argumentos circunstanciais, baseados nas mesmas premissas,
mostram que a objeção não se sustenta:
1. Muitos
condenados poderiam ser atingidos pelo evangelho exatamente porque são
confrontados com a morte e não vêem escapatória...
2. Considerando que muitos dos criminosos, por não
serem executados, voltam às ruas para matar, o que dizer das vítimas
inocentes, que morrerão sem terem tido a "chance" de serem
atingidas pelo evangelho, porque aquele criminoso havia-lhes tirado,
prematuramente, as vidas? “De quem queremos “preservar mais a chance” dos
criminosos, ou das muitas vítimas reais e em potencial?
É tão complicado diante da nossa carnalidade discutir temas assim. (Janine Nolêto)
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